GUIA SOBRE A PRUDÊNCIA
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1. Durante séculos, a prudência foi identificada com a “sabedoria da vida”.
Ser prudente é agir de um modo “pensado”, racional, não instintivo ou inconsciente.
A prudência é a virtude-guia da vida. Os antigos a chamavam auriga virtutum, o “cocheiro” que tem a rédeas do carro das virtudes e as dirige (cf. Catecismo, n. 1806).
É prudente aquele cristão que procura guiar-se pela razão iluminada pela fé. No proêmio da Encíclica “Fé e razão” (Fides et ratio), João Paulo II diz que «a fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade».
Ambas – razão e fé – procedem de Deus, única luz verdadeira (cf. Jo 1,9 e 1 Jo, 1,5), e são inseparáveis. Por isso, Bento XVI, na Universidade de Ratisbona, citava esta frase do imperador bizantino Manuel II Paleólogo: «Não agir segundo a razão é contrário à natureza de Deus» (12/09/2006).
2. A maior imprudência da vida não é atravessar uma avenida movimentada quando o semáforo está vermelho. É ser superficial:
– Ir no embalo: viver na inércia de uma rotina cega.
– deixar as rédeas da vida nas mãos das emoções e das paixões: ira, raiva, inveja, amor-próprio orgulhoso, ambição egoísta… Ou do sentimentalismo irracional: p.ex., moleza prejudicial na educação dos filhos.
– largar-se nas mãos dos desejos, procurando falsas razões para justificar aquilo que desejamos, em prejuízo do que teríamos que “fazer”, porque é um bem, um dever certo,
– decidir movidos pelos nervos e a pressa: afobação, precipitação, e-mails mal pensados…
Joseph Pieper, citando e comentando Santo Tomás de Aquino no seu livro sobre as “Virtudes Fundamentais”, diz: «O bem essencial do homem – isto é, o seu verdadeiro “ser humano”–, reside no fato de que “a razão, que se aperfeiçoa no conhecimento da verdade”, modele e informe interiormente seu querer e sua ação… “O homem é homem porque é racional”» (pp.17-18).
3. O Compêndio do Catecismo da Igreja católica diz: «A prudência dispõe a razão a discernir, em cada circunstância, o nosso verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para o pôr em prática. Ela guia as outras virtudes, indicando-lhe regra e medida» (n. 380).
Quando trata dessa virtude, Santo Tomás explica que ela leva, a partir do conhecimento verdadeiro, à decisão prudente, e que isso se realiza em três etapas:reflexão, juízo e decisão.
1ª) Reflexão: Já vimos como é fácil substituir a reflexão por emoções, paixões e interesses. Para refletir pudentemente precisamos de:
a) vencer a preguiça de pensar. É a preguiça que temos quando dizemos, antes de ter refletido sobre um problema: “deixa”, “estou cansado”, “não me aborreça”…
b) ter tempo para pensar sobre a vida e as coisas da vida: momentos concretos, fixos, habituais, de meditação, de oração, de exame de consciência.
c) cultivar o hábito de ler, que facilita o hábito de pensar.
d) saber usar a memória: para aproveitar a experiência e para retificar: «Não é prudente – diz São Josemaria – quem nunca se engana, mas quem sabe retificar os seus erros» (Amigos de Deus, n. 88).
e) ser humildes: pedir luz a Deus, ao Espírito Santo (luz dos corações). E saber pedir conselho a quem o possa dar. «O primeiro passo da prudência – diz São Josemaria – é o reconhecimento das nossas limitações: a virtude da humildade. É admitir, em determinadas questões, que não percebemos tudo, que em muitos casos não podemos abarcar circunstâncias que importa não perder de vista à hora de julgar. Por isso nos socorremos de um conselheiro. Não de qualquer um, mas de quem for idôneo» (Amigos de Deus, n. 86).
2ª) Juízo, avaliação. Vejamos alguns aspectos desse julgamento prático:
a) fazer um juízo de valor: enxergar o que é no caso moralmente melhor ou, pelo menos, bom. São Paulo pedia aos Romanos empenho em discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito (Rm 12,2).
b) discernir o ponto equilibrado do bem a realizar: não ficar nem abaixo desse ponto nem pecar por excesso (p.ex., é bom ser amável e conversar com os colegas, mas é errado gastar muito tempo em conversas inúteis).
c) julgar com clareza quais são as “prioridades”, utilizando não só a razão, mas a razão iluminada pela fé (Deus é a prioridade que não pode ser rebaixada).
d) fazer juízos acertados sobre os “meios” a serem empregados com eficácia. Definir bem o “que”, o “como”, e o “quando”.
3ª) Decisão.
Santo Tomás ensina que a virtude exige “transformar o conhecimento verdadeiro em decisão prudente”, e dá esta regra de ouro: «O homem prudente é lento na reflexão e rápido na execução». É claro que isso exige:
a) vencer o comodismo e o medo de que não dê certo. «A prudência exige habitualmente uma determinação pronta e oportuna. Se algumas vezes é prudente adiar a decisão até que se completem todos os elementos de juízo, outras seria uma grande imprudência não começar a pôr em prática, quanto antes, aquilo que vemos ser necessário fazer, especialmente quando está em jogo o bem dos outros» (Amigos de Deus, n. 86).
b) não cair na cautela medrosa. «Pela prudência, o homem é audaz, sem insensatez. Não evita, por ocultas razões de comodismo, o esforço necessário para viver plenamente segundo os desígnios de Deus … Prefere não acertar vinte vezes a deixar-se levar por um cômodo abstencionismo… Não renuncia a conseguir o bem por medo de não acertar» (Amigos de Deus, n. 87).
c) finalmente, a constância no esforço, ainda que custe muito (com a luta, e o tempo, custará menos).
Questionário sobre a prudência
− Procuro ter com frequência (se possível, diariamente) alguns momentos de silêncio e reflexão, para orar, meditar e esclarecer com Deus os assuntos fundamentais da minha vida? Peço ao Espírito Santo que ilumine a minha inteligência e oriente e fortaleça a minha vontade para seguir a verdade e o bem?
− Tenho o bom hábito de me aconselhar devidamente antes de assumir compromissos sérios, de fechar negócios arriscados ou de resolver problemas familiares e profissionais de certo vulto? Evito a autossuficiênia? Caio no orgulho de dizer: “Não preciso de ninguém, eu sozinho resolvo”?
− Quando tenho que enfrentar algum problema que cria tensões desagradáveis (familiares, profissionais, sociais), peço a Deus que não permita que a paixão, a ira, o ódio ou o rancor me privem do raciocínio lúcido.
− Guardo um silêncio prudente antes de corrigir, quando ferve a indignação? Falo só após ter transcorrido o tempo suficiente para que a correção, embora firme, seja serena e faça o bem?
− Evito duas imprudências, muito comuns e perigosas: ser afoito, ou ser o eterno hesitante?
− Caio na falsa prudência dos medrosos, que não querem arriscar nada e, por isso, adiam tudo, fogem de compromissos (com Deus e com o próximo) e se apavoram diante de ideais grandes e generosos? Percebo que este é o caminho garantido para a mediocridade?
– Esqueço-me de que até as pessoas mais simples me podem sugerir ideias e soluções boas, em que eu não havia pensado? Tenho respeito pelas opiniões dos demais?
− Caio na insensatez de dizer, em matérias de religião e espiritualidade, “eu não preciso de direção espiritual”, ignorando que a auto direção costuma terminar no fracasso?
− A prudência do autêntico cristão deve levá-lo muitas vezes a renunciar com valentia a ambientes, situações e comportamentos que outros acham normais. Tenho a coragem de prescindir de certas amizades perigosas, de prazeres, brincadeiras e costumes (em matéria de sexo, de bebidas, de festas, de espetáculos…), que só me fazem mal e ofendem a Deus?
− Dou-me conta do sentido profundo desta frase de Cristo: Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro se, depois, perde a sua alma (Mt 16,26)? Quem é mais “prudente”, aquele que se arrisca a condenar levianamente a sua alma, ou o que não hesita em fazer os sacrifícios necessários para não perder Deus para sempre?
− Sou firme nas minhas decisões? Persevero no cumprimento das resoluções difíceis? Depois de ter refletido e pedido luzes a Deus, empenho-me em levar as coisas até o fim, sem esmorecer nem recuar perante os obstáculos?
Conclusões (Procure tirar as suas conclusões e anotá-las)
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