Rosário, instrumento privilegiado de salvação e de luta.
Devoção mariana por excelência, o Rosário foi revelado por Nossa Senhora a São Domingos de Gusmão. Salvando as almas dos pecadores e combatendo os inimigos da Igreja, tomou relevância ainda maior em Fátima, atraindo graças em profusão.
Gregorio Vivanco Lopes
Iniciava-se o século XIII. A fé católica desabrochava esplendidamente por toda a Europa em frutos de justiça e caridade. Ao mesmo tempo, no campo civil, uma admirável e possante lógica levava os povos a se constituírem em Cristandade, a qual mereceu do Papa Leão XIII este belo elogio: “Nessa época a sociedade civil deu frutos superiores a toda expectativa, frutos cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos”.(1) De fato, a sociedade temporal só alcança todo o seu esplendor quando baseada nas verdades eternas.
Problemas, dificuldades, erros e pecados os havia, é claro, pois não estávamos no paraíso celeste, mas não constituíam a nota dominante, como hoje em dia.
O demônio, porém, não cessa de perseguir as almas e as instituições, como advertiu São Pedro: “Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar”.(2) O inimigo dos homens vinha já obtendo, havia algum tempo, vitórias significativas no sul da França e norte da Itália pela propagação da heresia dos cátaros, também conhecidos como albigenses, em referência à cidade de Albi, sul da França, onde se localizava seu centro.
Cátaro vem do grego e significa “puro”. Os únicos “puros” eram os que aderiam ao catarismo e se submetiam a suas iniciações e prescrições. Todo o resto da humanidade era constituído pelos “impuros”. Ensinavam os cátaros que havia um deus mau, criador dos corpos humanos e da matéria em geral, ao lado de um deus bom, que criara as almas, as quais haviam sido aprisionadas nos corpos. Diversos bispos e nobres os protegiam. Ressuscitava-se assim a velha heresia gnóstica que tanto havia atribulado os primeiros tempos do cristianismo.
Os Papas tudo fizeram para tentar converter essa parcela dissidente do rebanho de Cristo. Enviaram apóstolos, missionários, pessoas virtuosas. Tudo em vão.
Além da salvação dessas almas transviadas, outra tarefa premente era evitar o contágio da heresia. E também sua influência nefasta sobre a sociedade temporal, a qual, nos centros cátaros, tendia a constituir-se à maneira de uma sociedade comunista cuja nomenklatura da época seria formada pelos “puros”.
O que fazer? A solução veio do alto, mais precisamente do Céu.
Nossa Senhora revela a devoção do Rosário a São Domingos
Um homem de Deus profundamente preocupado com a situação da Igreja e da Cristandade naquela região pregava incessantemente as verdades da fé. Era o espanhol São Domingos de Gusmão.
Muitos milagres marcaram sua evangelização entre os cátaros. Um dos mais famosos ocorreu em Fangeux, na diocese de Carcassona. “Os líderes cátaros apareceram em grande número, trazendo o livro que continha todas suas heresias. São Domingos levava um caderno no qual havia refutado a maioria desses erros. Como não chegavam a nenhum acordo, decidiram apelar para a prova do fogo. O escrito que permanecesse incólume numa fogueira seria o verdadeiro. Fizeram uma grande fogueira e nela jogaram o livro dos cátaros. Pouco depois estava este reduzido a cinzas. Lançaram então ao fogo o escrito de Domingos. Este voou ao ar sem se queimar e foi pousar numa viga do teto, onde deixou uma marca de fogo. Por três vezes os hereges repetiram o ato, com o mesmo resultado”.(3)
Mas nem mesmo milagres estrondosos convertiam aqueles corações empedernidos.
No ano de 1208, num dia em que São Domingos rezava fervorosamente na capela do recém-fundado convento de Prouille, no Languedoc francês, pedindo a intervenção da Santíssima Virgem, eis que Ela lhe aparece e diz que “como a saudação angélica tinha sido o princípio da redenção do mundo, era necessário também que essa saudação fosse o princípio da conversão dos hereges; que assim, pregando o Rosário que contém cento e cinquenta Ave-Marias, ele veria um sucesso maravilhoso em seus trabalhos e os mais empedernidos sectários se converterem aos milhares”.(4)
Era a instituição oficial do Rosário como arma sobrenatural contra a heresia recalcitrante. São Domingos não hesitou um instante. Pôs-se a pregar a oração do Rosário em todas as cidades infectadas pela heresia. O resultado foi surpreendente. As conversões, que antes não se produziam, agora se faziam aos milhares. Vários jovens começaram a aproximar-se do santo, constituindo assim o núcleo inicial daqueles que em breve seriam os frades da Ordem dos Pregadores, ou Dominicanos, que São Domingos fundaria.
Concomitantemente a esses fatos, a Cruzada movida por Simão de Montfort contra os albigenses, constituída por ordem do Papa Inocêncio III, debelava de modo inclemente os focos de cátaros renitentes, defendendo assim a Igreja e a sociedade temporal, cada uma delas golpeada a fundo pela heresia. O último reduto cátaro caiu em 1256. Comenta São Luis Grignion de Montfort: “Quem poderá contar as vitórias que Simão, Conde de Montfort, obteve contra os albigenses sob a proteção de Nossa Senhora do Rosário? Foram tão notáveis, que jamais se viu no mundo coisa parecida”.(5)
O Rosário nas vitórias da Cristandade
Entre outras graças insignes, alcançadas posteriormente pelo Rosário, figura a vitória dos católicos sobre os turcos em Lepanto, em 1571, quando a derrocada da Cristandade parecia iminente e uma intervenção milagrosa de Nossa Senhora a salvou. Por isso, São Pio V ordenou que no dia 7 de outubro de todos os anos se comemorasse uma festa em honra de Nossa Senhora das Vitórias, título alterado posteriormente pelo Papa Gregório XIII para Nossa Senhora do Rosário.
Outra vitória assinalada, no mesmo gênero e contra o mesmo inimigo — o Crescente — deu-se em 1716, em Petrovaradin, atualmente cidade da Sérvia. Em consequência dessa graça alcançada para a Cristandade, o Papa Clemente XI estendeu a festa de Nossa Senhora do Rosário ao conjunto da Igreja.
Em pleno século XX, a Áustria ficou livre da dominação comunista por efeito da Cruzada Reparadora do Santo Rosário, que galvanizou a população do país. Os soviéticos acabaram por retirar-se, sem que fosse preciso dar um tiro.
No Brasil, o Santo Rosário esteve na raiz do movimento católico que se insurgiu contra a dominação calvinista nos séculos XVI e XVII, no Rio de Janeiro e em Pernambuco.
O Rosário como penhor de futuras vitórias da Igreja
Se Nossa Senhora quis obter para a Cristandade grandes vitórias contra os inimigos da Igreja, podemos muito legitimamente concluir que, pela devoção do Rosário, a qual certamente deverá durar até o fim dos tempos, a Igreja poderá alcançar novas vitórias também espetaculares, bem como a implantação, nas almas e no mundo, da devoção ao Imaculado Coração de Maria. Era esta a aspiração constante do grande devoto do Rosário que foi Plinio Corrêa de Oliveira. Ele compôs algumas sublimes meditações para ajudar a rezar bem o Rosário, as quais se encontram publicadas na edição de maio/2012 da revista “Catolicismo”.
Na atual situação brasileira, em que a esquerda radical e de índole persecutória vai assumindo cada vez mais postos de comando, o Rosário se mostra especialmente necessário para os que desejam permanecer firmes na fé e combater por ela.
Veja-se, por exemplo, a aprovação pelo Supremo Tribunal Federal da união homossexual, da marcha da maconha, da aprovação do aborto de fetos anencefálicos; veja-se a orientação esquerdista de ministros e ministras do atual governo; considere-se o projeto de novo Código Penal, que estende as possibilidades de aborto e legaliza a exploração empresarial da prostituição; veja-se a retirada dos crucifixos dos tribunais gaúchos e outros locais; veja-se a ameaça sempre presente de criminalizar como homofóbico quem manifestar discordância em relação às práticas homossexuais; veja-se o fantasma do PNDH-3, que não só não foi revogado como vai sendo aplicado aos poucos.
A pretexto de “Estado laico”, os cristãos são cada vez mais marginalizados, vilipendiados, procura-se impedi-los de esgrimir seus argumentos religiosos, o que é concedido aos ateus. A onda organizada de cristianofobia que percorre o mundo encontra forte eco em nossa Pátria, embora por enquanto de modo não violento.
A recitação assídua do Rosário, sobretudo por aqueles que lutarem pelo advento do Reino de Maria — conforme as profecias de Fátima e as previsões de São Luis Grignion de Montfort — terá provavelmente um papel decisivo no triunfo da Santíssima Virgem. O Santo Rosário é um penhor de vitórias futuras.
Benefícios da recitação do Rosário
Em seu instrutivo livro O Segredo Admirável do Santíssimo Rosário, São Luis Grignion de Montfort assim resume os benefícios que podemos obter ao rezar o Rosário:
“1º) Os pecadores obtêm o perdão;
2º) As almas sedentas se saciam;
3º) Os que estão atados vêem seus laços desfeitos;
4º) Os que choram encontram alegria;
5º) Os que são tentados encontram tranquilidade;
6º) Os pobres são socorridos;
7º) Os religiosos são reformados;
8º) Os ignorantes, instruídos;
9º) Os vivos triunfam da vaidade;
10º) E os mortos são aliviados por meio de sufrágios.”
Felizmente, muito se tem falado sobre o Santo Rosário. A própria Santíssima Virgem disse em Fátima aos três videntes: “Eu sou a Senhora do Rosário. Quero que continuem a rezar o terço todos os dias”.
Rezar o Rosário todos os dias, ou ao menos um terço, é o que de melhor se pode recomendar.
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Notas
1. Encíclica Immortale Dei, de 1°/11/1885.
2. I São Pedro 5,8.
3. Plinio Maria Solimeo, São Domingos de Gusmão, in Catolicismo, agosto/2003.
4. Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, d’après le Père Giry, Paris, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, 1882, tomo IX, p. 283.
5. Obras de San Luis Maria Grignion de Montfort, El secreto admirable del Santissimo Rosario, Biblioteca de Autores Cristianos, Madrid, 1954, p. 356.
Notas
1. Encíclica Immortale Dei, de 1°/11/1885.
2. I São Pedro 5,8.
3. Plinio Maria Solimeo, São Domingos de Gusmão, in Catolicismo, agosto/2003.
4. Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, d’après le Père Giry, Paris, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, 1882, tomo IX, p. 283.
5. Obras de San Luis Maria Grignion de Montfort, El secreto admirable del Santissimo Rosario, Biblioteca de Autores Cristianos, Madrid, 1954, p. 356.
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